Vínculos familiares por Sílvia Rocha
Vínculos Familiares
“É livre quem pode
transformar-se” – Bert Hellinger
Porque
será que por mais que uma pessoa se esforce, alguma área de sua vida não flui?
E por mais que se tente avançar, parece que está se remando contra uma maré bem
forte, fazendo o barco ficar inerte? Você já se questionou que talvez essa
trava não seja somente sua? É o que podemos chamar de emaranhamento familiar.
Parece que somos ligados uns aos
outros por fios invisíveis, uma vida toca e influencia a outra. Às vezes os
fios estão bem perto outras estão distantes, mas estamos todos conectados a uma
rede. E nas famílias, existem verdadeiras teias, onde os fios podem estar unidos
e livres, fazendo o amor fluir em seu dar e receber, trazendo um sentimento de
vínculo, segurança, apoio e liberdade. Outras vezes os fios estão emaranhados
trazendo culpas, controle, dor e vários nós
precisam ser desfeitos.
Não é porque existe amor que
existe saúde. Por amor pode-se sofrer, adoecer e até morrer, é um amor cego.
Porque a pessoa enredada faz de tudo para se sentir pertencendo e isso pode
significar se unir a um destino difícil. Então como ser bem sucedido numa
família onde houveram fracassos? Como se casar se houveram tios solteiros a
vida toda? Esses comportamentos que repetem os dos ancestrais são inconscientes
e podem ser liberados quando trazidos à consciência.
Segundo as terapias sistêmicas, vivências
de outras pessoas são carregadas, principalmente se estas pessoas foram
excluídas do sistema familiar: sua existência foi mantida em segredo ou não
recebeu um lugar digno na família. Exemplos: irmão falecido prematuramente ou
natimorto, abortos, alienação parental, doentes, criminosos, casos de abuso,
injustiças. É preciso encontrar que vínculos, eventos ou comportamentos estão
por detrás do problema. A solução geralmente consiste em poder olhar mais
amplamente a situação.
A alienação parental geralmente
ocorre por ocasião de divórcios, onde a imagem de um dos pais é denegrida
causando na criança um sentimento de rejeição a esse pai ou mãe. Isso causa um desequilíbrio
na criança que necessita da força de ambos os pais dentro de si para se
desenvolver saudavelmente. Filhos adotivos precisam ter dentro de si um lugar
amoroso para seus pais biológicos independente de qualquer julgamento a
respeito deles. As pessoas excluídas também
poderão ser buscadas em futuros parceiros. Por exemplo, se um filho de um
relacionamento anterior de um pai fora renegado por ele, a filha do atual
casamento pode encontrar apenas relações fraternas com os homens. O que pode
ser dissolvido se este irmão for buscado e reintegrado à família.
O silêncio e o segredo familiar
mostram a dificuldade que se tem de confrontar a dor que é relembrar e reviver
algo difícil. A dor só é liberada quando sentida e quando se consegue dar um
lugar digno para o ocorrido, senão uma compensação pode ser feita por um membro
da família que se coloca à serviço inconscientemente pois nem sequer soube de
tal evento. Pessoas falecidas precisam ser homenageadas, por isso rituais de despedida são importantes, assim
como contar histórias familiares para os membros mais novos da família.
Transformar o amor cego num amor
que vê claramente os acontecimentos e destinos familiares passados é liberar a
pessoa para trilhar seu próprio destino. Diferenciar-se sem culpa é possível
quando o passado pára de atuar no presente, ao reconhecer injustiças pelo
simples e profundo fato de olhar para elas com respeito e homenagem. Curvar-se
reverenciando os destinos é separar-se deles ainda que o vínculo amoroso
continue agora de uma forma mais saudável. Só se pode amar quando o outro é realmente
um outro e não uma mistura.
Dado lugar merecido a todos os
envolvidos num sistema familiar, a reconciliação acontece. O que fora
esquecido, é acolhido e o mais jovens poderão desfrutar de novos desfechos em
suas vidas, em homenagem ao que seus ancestrais não puderam viver. Olhar de
frente o futuro e enxergar um campo de muitas possibilidades.
Sílvia Rocha
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